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Carta aberta: pela retirada do painel no CCON

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO) vem a público manifestar sua posição em relação à grande celeuma gerada pelo painel artístico aplicado na empena de um dos edifícios do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON).

O CCON, localizado às margens da rodovia GO-020, desde seus estudos preliminares esteve envolto em críticas. Os pontos centrais dos questionamentos diziam respeito à escolha do sítio para a construção, à demora e, pior ainda, à má qualidade da execução da obra, que o próprio arquiteto  Oscar Niemeyer refutou. Após a conclusão, novos problemas apareceram, como a falta de um projeto estrutural que considerasse a sobrecarga dos livros da biblioteca e a completa ausência de uma agenda cultural que ocupasse definitivamente seus quase 20 mil metros quadrados. Nota do editor: a respeito de os pavimentos suportarem ou não a carga de uma biblioteca, o gestor do CCON, Nasr Chaul, informou no debate realizado no último dia 26 que o primeiro pavimento tem, sim, capacidade para estantes com livros (600 quilos por metro quadrado); nos outros dois andares, é possível instalar infraestrutura para leitura e conteúdos digitais ou virtuais (com capacidade para 300 quilos por metro quadrado).

Com o tempo, a população decidiu espontaneamente ocupar sua área externa, fosse sobre patins, skates ou bicicletas, feiras gastronômicas ou festivais de música. Assim, o CCON transformou-se, requalificando a aridez de uma plataforma de concreto e transformando-a em uma praça com  qualidade que Goiânia não possuía. Ótimo! Afinal, em uma cidade que carece de diálogo entre a infraestrutura e a sociedade e entre as diretrizes legais e os interesses coletivos, quando as pessoas tomam para si usar e cuidar de um espaço público, é preciso acolher e incentivar. O solo livre, um dos preceitos da arquitetura moderna, deseja justamente essa apropriação.

Nesse espírito, foi realizada recentemente uma intervenção artística na empena branca de um dos edifícios do CCON, o que o Conselho de Arquitetura também saúda. A informação oficial é de que o contrato entre o gestor do espaço e a empresa realizadora do festival Bananada, responsável pelo painel, determina que ele permaneceria no local por 30 dias. Porém, o debate em torno do assunto levantou a possibilidade de que se torne permanente. A posição do CAU/GO é de que a obra seja, de fato, retirada. O Conselho também defende que, em uma próxima oportunidade, a interferência não utilize como suporte o próprio edifício. A fim de proteger sua integridade, é recomendável que se utilize estruturas anexadas a ele, como paineis móveis ou outros suportes.

O privilégio de termos um exemplar da arquitetura moderna em nossa cidade, de autoria de um dos grandes mestres da arquitetura mundial, não deve ser maculado por qualquer interferência permanente, que não estivesse no projeto original. Trata-se aqui de um patrimônio cultural, idealizado por um dos fundadores do movimento mundial da arquitetura moderna, cujas características, além do solo livre, incluem planta, janelas e cobertura livres, assim como fachadas livres de ornamentos sem fundamento. Vale lembrar também que o art déco, que Goiânia tanto valoriza, é um movimento paralelo à arquitetura moderna. Ambas surgiram na primeira metade do século 20 em contraposição ao estilo neoclássico.

O CAU/GO aproveita a oportunidade para levantar um problema maior, que alcança edificações e a infraestrutura urbana em toda parte: o recorrente desrespeito que atinge projetos de Arquitetura e Urbanismo, desenvolvidos a partir de extensos estudos e experiência profissional. A entidade, criada pela lei 12. 378 de 2010, possui um arcabouço legal criado através de resoluções, como Código de Ética e Disciplina, Atribuições Exclusivas e Direito Autoral, que irá salvaguardar todos os possíveis ataques que porventura se dirigirem à obra e à dignidade de qualquer arquiteto e urbanista. Seja ele um Oscar Niemeyer ou um anônimo profissional de uma remota prefeitura.

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