A arquiteta e urbanista Anamaria Diniz lança na próxima quarta, 29, o livro O itinerário pioneiro do urbanista Attilio Corrêa Lima. O evento será na Livraria Nobel do shopping Bougainville, às 19h. A publicação, que teve patrocínio do CAU/GO, foi elaborada a partir da tese de doutorado de Anamaria, defendida em 2015 na Universidade de Brasília (UnB).
A publicação analisa as correspondências entre Attilio e seu pai entre 1927 e 1931, período em que o urbanista estudou no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (IUUP). “O IUUP foi uma das primeiras universidades de Urbanismo no mundo”, diz Anamaria Diniz. Ao voltar ao Brasil, Attilio inaugurou a cátedra de urbanismo no país.
“Com o edital de patrocínio anual, o CAU/GO tem o objetivo de estimular e engrandecer o debate e o conhecimento sobre a Arquitetura e Urbanismo no Estado”, afirma o presidente do Conselho, Arnaldo Mascarenhas Braga. “Esperamos que a cada ano surjam novas publicações que, como essa, apresentem conteúdos para contribuir nessa construção.”
Responsável pelo planejamento urbano original de Goiânia, Attilio Corrêa Lima foi pioneiro do movimento moderno na Arquitetura e no Urbanismo brasileiros. Além disso, idealizou o traçado de Volta Redonda (RJ) e do notório Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, na região central de São Paulo (SP).
Anamaria Diniz é investigadora de longa data da trajetória de Attilio. Em 2007, apresentou a dissertação Goiânia de Attilio Corrêa Lima (1932-1935): ideal estético e realidade política. Atualmente, coordena o grupo de pesquisa Goiânia de Attilio Corrêa Lima – a cidade idealizada e não materializada, na PUC Goiás, onde leciona. Na entrevista abaixo, a professora conta um pouco mais sobre seu trabalho.
Por que é importante pesquisar Attilio Corrêa Lima?
Primeiro, porque ele foi o idealizador do plano original de Goiânia. Isto é, o nosso primeiro Plano Diretor, de 1935. Segundo, porque ele foi o primeiro urbanista brasileiro a se formar em uma universidade nessa ciência que é o Urbanismo. Com isso, foi precursor de ensino de Urbanismo nas escolas de Arquitetura do Brasil.
Você passou mais de dez anos levantando materiais e analisando arquivos no acervo da família Corrêa Lima, em Nova Friburgo (RJ). Como decidiu a estrutura da sua tese, a partir desse trabalho?
A tese aborda o período anterior à concepção de Goiânia, quando Attilio cursou Urbanismo no IUUP, de 1927 a 1931. O fio condutor para estruturar a tese foram cartas trocadas entre Attilio e seu pai, o escultor José Octávio Corrêa Lima. Essas correspondências abordavam vários temas, a questão do pós-guerra na Europa, as dificuldades de moradia em Paris – os aluguéis altos, a questão cultural de uma cidade vivendo a decadência – e uma descrição do conteúdo que ele aprendia no curso. No início, eu faço uma contextualização teórica bibliográfica de outros autores que já haviam pesquisado o Attilio. A partir dessa revisão, aponto o que não havia sido falado ainda sobre a história dele. O foco maior é exatamente o que ele vai estudar na Europa e trazer para o Brasil, como esse ensino é refletido nos projetos de Goiânia e nos projetos de arquitetura modernista, como o da estação de hidroaviões no Rio de Janeiro – entre outros que ele realizou.
A tese teve então o conteúdo dessas cartas, que vão estar na publicação: um box em dois volumes, sendo o primeiro de 340 páginas (com o corpo da tese, em uma linguagem acessível), e o segundo contendo os originais das correspondências.
A partir dos seus estudos, que influências políticas você observou no desenvolvimento do urbanismo brasileiro?
Em Goiânia, houve uma “descontribuição” política. De um lado, havia o ideal estético de Attilio. De outro, a questão política, que envolvia conflitos entre caiadistas e o interventor. Mais do que isso, já havia a especulação imobiliária, que se deu logo no início de Goiânia, com apropriações de áreas verdes, com reparcelamento por conta dos engenheiros Coimbra Bueno – que modificaram o plano do Attilio e passaram não só a projetar a cidade, mas também a comercializar os lotes. Vemos no Brasil que não há nenhuma preocupação com o planejamento, como no passado já houve. Hoje, nos grandes centros, quem dita o Plano Diretor e determina como as áreas da cidade serão ocupadas são as bancadas das incorporadoras e construtoras. Acho que o estado de decadência política que estamos vivendo no Brasil atualmente é um espelho de como as grandes empresas têm explorado o país e suas cidades, partindo da corrupção. Isso se deu desde o início da implantação de Goiânia. A “contribuição” da política tem sido de não permitir que os urbanistas sejam os técnicos que pensam e planejam a cidade.
A Praça Cívica de Attilio nunca chegou a ser construída?
Como os projetos que foram idealizados pelo Attilio sofreram mudanças quando foram implantados, na minha dissertação eu desmistifico que Goiânia seja essa cidade dos planos. A Praça Cívica não obedeceu ao modelo original, que era uma praça seca, em forma de ferradura, fechada. Inclusive o Attilio previa que, se se a praça tivesse uma concepção radial, teria todos os problemas que hoje a gente vê, que é a necessidade de contornarmos uma via radial para termos acesso ao Centro da cidade. O pouco que ainda existia da concepção da Praça foi destruído com a reforma de 2015. Pouco se conhece do que foi realmente o projeto original.
É viável, atualmente, concretizar na cidade propostas de Attilio que não chegaram a ser implantadas?
Estou agora no pós-doutorado e com um grupo de iniciação científica, exatamente resgatando esse traçado original, que é pouco conhecido, através do acervo da família Corrêa Lima, dos projetos que o Attilio deixou. Então essa é uma análise que está em curso. Estamos elaborando, a partir das fotos da planta original, uma planta digital. Através dela será feita uma maquete para se conhecer essa cidade. Apenas após análises é que vamos tirar essas conclusões.