O arquiteto e urbanista paulista Vinicius Hernandes de Andrade esteve em Anápolis e em Goiânia, nos dias 3 e 4 de abril, respectivamente, ministrando palestras para acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo, durante a Aula Magna do CAU/GO. Um dos fundadores do escritório Andrade Morettin, ele apresentou experiências louváveis na área de habitação de interesse social: a reurbanização de três favelas do entorno da Marginal Tietê, projeto da Prefeitura Municipal de São Paulo, e um projeto aprovado pelo Governo Estadual, mas ainda não executado, que prevê recriação do centro de São Paulo, que, como a maioria das cidades sofre com o abandono e a insegurança. Na próxima edição, o boletim Perspectiva trará informações aprofundadas sobre o Aula Magna, que lotou os dois espaços onde foram realizadas. Confira a curta entrevista concedida por Vinícius de Andrade.
Como você vê o ensino de Arquitetura e Urbanismo hoje no Brasil?
Posso falar da minha experiência na Escola da Cidade, mas acho que os cursos hoje têm uma preocupação muito grande com a questão urbana, tanto que a arquitetura se tornou uma disciplina independente. Hoje nós temos uma abordagem muito mais integrada, de como é que tudo se relaciona no meio urbano, subsídio para eles fazerem projetos, acho que essa consciência que se vai passando para os alunos. Mais importante do que termos muitos prédios, é termos cidades melhores. Eu sou muito otimista nessa questão da educação.
Você acredita que estamos caminhando para criar cidades sustentáveis, você acha que há essa possibilidade?
Temos que tomar um certo cuidado, porque o termo sustentável é um termo novo e há muita ambiguidade em cima dele, é muito inconsistente ainda. Mas eu acredito que a cada vez que a gente vá desenvolvendo projetos mais conscientes e adequados ao contexto em que eles estão inseridos, faz com que eles se tornem mais adaptados, portanto, mais sustentáveis. Se vamos chegar a ter cidades sustentáveis, eu não sei, porque eu não sei se a humanidade é sustentável para o planeta. Essa é uma questão que foge da minha capacidade de análise, mas acho que, à medida que a gente adquire consciência dos problemas que atingem o meio urbano, temos mais condições de conduzir o processo rumo a cidades mais sustentáveis do que eram antes.
Você acha que a Arquitetura e Urbanismo e a administração pública podem contribuir neste processo?
Com certeza, principalmente a administração pública, que é quem dita as regras sobre o uso do solo. Os outros agentes envolvidos, os arquitetos e urbanistas, o mercado da construção civil, a sociedade… A construção das cidades é feita por meio de negociação e quanto mais esta negociação for bem esclarecida e equacionada, melhores serão nossas cidades.
Para pensar este espaço urbano, quais os requisitos primordiais?
É preciso conhecer muito bem os lugares fisicamente, entender muito bem as dinâmicas urbanas que estão estabelecidas naquele lugar. Entender que quando você faz um projeto de intervenção na cidade, você mexe com a vida das pessoas e é preciso entender bem da viabilidade, de como os agentes podem se interessar e podem contribuir para este processo. Se estas três coisas estiverem bem equilibradas, dá pra fazer um projeto bacana.
É possível responder de forma igualitária às demandas da sociedade?
É possível e é obrigatório, mas é muito difícil também. Acredito que estamos todos aprendendo, a administração pública, os arquitetos e urbanistas, as entidades, a sociedade civil organizada… O diálogo é coisa nova para nós, a gente partiu de um sistema colonial, passamos por um sistema autoritário, então estamos começando agora, estamos inventando um novo processo democrático. Espero que esse processo se fortaleça, o que vai tornar mais fácil realizarmos estas negociações.