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A obra não pode parar, artigo da vice-presidente Maria Ester de Souza

*Artigo de Maria Ester de Souza, vice-presidente do CAU/GO

Em 2015, o CAU veio a público em apoio ao Ministério Público numa ação que pedia a paralisação das obras do BRT Norte-Sul em Goiânia. O argumento era de que, antes da realização de qualquer licitação, deveria ser desenvolvido o projeto completo da obra pública. Esta permanece sendo nossa posição, antes da realização de uma obra.

“Vamos mudar o projeto” é uma expressão que nós, arquitetos, estamos acostumados a ouvir de nossos clientes. Numa relação profissional responsável e transparente, mesmo com mudanças temos grande chance de obter êxito nos resultados da obra. Por que mudar o projeto do BRT, da forma como foi sugerida pelo atual prefeito de Goiânia, pode, então, não ser a melhor alternativa, mesmo considerando nossas críticas sobre como o corredor deverá atravessar o centro histórico da cidade?

Simplesmente, porque a obra já foi iniciada. Mesmo sem o necessário projeto detalhado, ela agora deve seguir seu roteiro. Uma mudança de paradigma causaria todo transtorno imaginável – político, administrativo, econômico. Segundo, porque numa relação contratual, mesmo entre entidades públicas, os termos devem ser respeitados sob o risco de uma mudança (no traçado, por exemplo) inviabilizar economicamente as obras e nos fazer assistir ao que comumente ocorre em obras públicas: o abandono por parte do contratado.

O que poderia, sim, ser feito neste momento, é um ajuste no desenho, sem alterar o traçado ou o objetivo principal do corredor, que é o de ligar as regiões Norte e Sul da Região Metropolitana da capital. Poderia ser desenvolvido – com o auxílio concreto do Instituto do Patrimônio Histórico, se possível – um desenho em que as plataformas de embarque e desembarque não sejam construídas sobre a ilha da avenida Goiás, por exemplo. Também poderia ser revisto o propósito de se empregar ônibus elevados, que demandaria estações específicas e engessaria o uso dos veículos. E ser incluída uma ciclovia como modal paralelo.

A cidade precisa mesmo ser pensada em sua complexa rede de funções e atividades. Os serviços de um BRT podem qualificar a cidade, desde que sua implantação seja objeto de um projeto urbanístico, e não apenas de transporte. As obras estão paradas, a população dos locais interditados convive com entulho e a aridez da retirada das árvores, e o transporte coletivo segue como pauta, mas apenas no discurso.

Mudanças em projeto não são um problema. São, sim, uma oportunidade para rever conceitos iniciais equivocados.

Publicado originalmente no jornal O Popular, em 12/03/2017.

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