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Alerta às cidades para a crise climática – artigo da conselheira Regina de Faria

Os efeitos das mudanças climáticas permeiam os noticiários, impactando a sociedade com eventos trágicos decorrentes de alagamentos, inundações e secas. Alta incidência de extremos climáticos, como as recentes chuvas no Acre, elevação da temperatura em até cinco graus em algumas metrópoles e estiagem severa em localidades do Nordeste brasileiro, levaram ao recorde no país de decretações de estado de calamidade e de emergência, nos últimos dez anos.

Algumas décadas atrás, quando ambientalistas afirmavam que o aquecimento global batia à porta, céticos diziam que eram presságios exagerados de radicais. Hoje em dia o aquecimento global é sentido à flor da pele e nos traz, além de desconforto, tragédias e mortes em todo o mundo.

Desde 2003, as anomalias no clima, caracterizadas por dias mais quentes que a média esperada e os picos de altas temperaturas, começaram a desencadear fenômenos como chuvas intensas, tempestades, alagamentos, inundações. A década de 2011 a 2020 havia sido a mais quente já registrada desde 1980, mas 2023 foi considerado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) o mais quente em 174 anos de medições meteorológicas – superando 2016 e 2020. 

Este cenário planetário conduziu alguns países a desenvolver ações e pesquisas que podem contribuir para um novo direcionamento. Na Alemanha, Berlim, sua capital, e a cidade de Hamburgo estão no rol das denominadas cidades-esponja, um conceito relativamente novo relacionado com o arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu. Ele conduziu inúmeros projetos sobre absorção das águas, criação de parques alagáveis ou recreativos, entre outros instrumentos, para o avanço do conceito de infraestrutura verde. A proposta se contrapõe à “infraestrutura cinza”, baseada no uso do cimento, concreto, aço e asfalto. 

O programa cidade-esponja, apesar de ser recente, possui uma base teórica relacionada à antiga sabedoria da agricultura e da gestão da água utilizando recursos naturais, tendo em vista garantir a permeabilidade do solo para absorção da chuva. De acordo com Kongjian Yu, contribuem para esse objetivo instrumentos como parques lineares, jardins de chuva, pisos e pavimentos drenantes, valas de infiltração, matas ciliares, corredores ecológicos e hortas urbanas. Os parques alagáveis, praças-piscina e telhados com jardins estão entre medidas adotadas por cidades europeias e americanas.

Os efeitos do desequilíbrio climático apontam para a necessidade de um esforço descomunal por parte da humanidade. São indispensáveis os instrumentos de políticas públicas, o planejamento urbano e ambiental e a conscientização da população, mirando na minimização dessas consequências. Alertas que estão virando rotina só serão combatidos através de ferramentas visando uma transformação global e sustentável.

De acordo com Hans-Otto Pörtner, co-presidente do Grupo de Trabalho II do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a evidência científica é inequívoca. “As mudanças climáticas são uma ameaça ao bem-estar do ser humano e à saúde do planeta. Qualquer outro atraso em uma ação climática conjunta provocará uma perda na breve e rápida janela aberta para garantirmos um futuro habitável.”

*Regina de Faria, arquiteta e urbanista, é conselheira federal suplente do CAU/BR por Goiás
Artigo publicado no jornal A Redação, no dia 25/03/2024.

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