Em um artigo para a última edição da revista Di Casa, a vice-presidente do CAU/GO, Maria Ester de Souza, reflete sobre as razões para a desconfiança da sociedade, diante das obras públicas levadas a cabo em Goiânia.
Leia o texto abaixo, na íntegra:
Goiânia, cidade não planejada
Maria Ester de Souza
Desde o início do ano, acompanhamos em Goiânia notícias sobre grandes intervenções nas principais vias da capital e na Praça Cívica. Obras no espaço público sempre causam transtornos, atrapalham o trânsito e geram uma infinidade de reclamações. Mas o que há de tão polêmico aqui, que levou as discussões até as redes sociais?
Em primeiro lugar, acredito que o fator “surpresa” é responsável pelo alvoroço inicial. No fim de novembro de 2014, a Prefeitura já havia anunciado as obras da Avenida 85. Porém, a retirada de 22 palmeiras imperiais, em janeiro, não fora mencionada. A polêmica residiu principalmente nesse fato.
Em segundo lugar, a falta de informações por parte do poder público, acerca dos projetos a serem executados, colocam mais “lenha” na fogueira. Em 30 de janeiro, a Prefeitura anunciou a obra da Praça Cívica, espaço público símbolo do poder e paisagem emblemática da identidade do goianiense. O burburinho foi imediato. “Vão retirar as árvores? Vamos ficar sem estacionamento? Quem fez o projeto? O Iphan autorizou?” Mais uma vez, as notícias sobre as intervenções no ambiente urbano não agradaram e algumas perguntas ficaram sem resposta.
Somado a isso, temos a sensação de que nada vai dar certo, de que a informação prestada não é verdadeira e de que tudo é feito de forma improvisada e sem planejamento. Não é raro haver faixas de pedestres pintadas na faixa de rolamento das vias e, logo ao lado, fora de seu alinhamento, o rebaixo do meio-fio para quem tem dificuldade de locomoção. Também é comum ocorrer constantes paralisações de obras públicas por falta de verba ou de fornecedor, ou por embargo dos órgãos de fiscalização, por exemplo.
Podemos concluir que a decisão por tais intervenções ocorreu na urgência, para “não perder a verba”, sem planejamento ou integração dos diversos setores envolvidos em obras tão importantes para a vida na cidade. Percebemos que os questionamentos acerca delas passam, na maioria das vezes, mais pela maneira como a gestão as conduz e menos por seu conteúdo – apesar de as obras mencionadas apresentarem propostas bastante discutíveis.
Nosso papel, como cidadãos e como arquitetos e urbanistas, é estabelecer um canal de comunicação eficiente com os gestores e exigir que ele funcione plenamente. Ao mesmo tempo, devemos nos manter atentos e críticos, divulgando as informações disponíveis e cobrando da Prefeitura mais eficiência e qualidade.