No dia 12 de novembro, o jornal O Popular publicou uma reportagem que apontava a avenida Goiás como a melhor via da capital goiana. Seis dos nove especialistas consultados consideraram para a escolha, “apesar de muitos problemas a serem resolvidos”, a arborização, a largura das calçadas, o canteiro central, os equipamentos urbanos disponíveis e a existência do corredor exclusivo para ônibus.
Para o presidente do Conselho, Arnaldo Mascarenhas Braga, não é coincidência o fato de a maioria dos entrevistados ter escolhido a Goiás. Além de ser uma via simbólica por seu histórico, a avenida foi, em 2002, fruto de um concurso de projeto realizado pela Prefeitura de Goiânia, que premiou o arquiteto e urbanista Jesus Cheregati para o desenvolvimento de um projeto paisagístico, implantado no ano seguinte.
“O concurso de projeto é uma maneira democrática e transparente de garantir a melhor solução para determinado espaço público”, afirma o presidente. “Todo arquiteto pode participar, e a proposta selecionada é aquela que mais atende ao objetivo do espaço. É a qualidade do projeto que conta.”
“A avenida era totalmente tomada por camelôs”, lembra Jesus Cheregati. “De um lado da Goiás, você não via o outro, pois o local era tomado por barracas.” Com as obras de requalificação, os feirantes se reestabeleceram na Avenida Paranaíba e na Praça do Trabalhador.
O projeto de Cheregati previa a travessia pelas pontas de quadra, que ofereceriam serviços como bancas de revista, telefones públicos e postos policiais. “Desta forma, a população seria estimulada a atravessar pelas faixas de pedestres, com rebaixo para cadeirantes”, diz o arquiteto. Estabelecia também a instalação de bancos, espelhos d’água e pergolados, além do plantio de centenas de novas árvores, nativas do Cerrado. As propostas não podiam descaracterizar o traçado proposto por Attilio Corrêa Lima na década de 1930, que inclusive se encontravam em 2003 em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Embora o projeto não tenha sido 100% implantado, para Cheregati o objetivo do concurso e do projeto foi exitoso. “Minha proposta foi de unir dois momentos da avenida Goiás: a inauguração de Goiânia, com o projeto de Attilio, e a requalificação ocorrida na década de 1970, quando vieram os calçadões.”
Longe do ideal
A arquiteta e urbanista Adriana Mikulaschek, conselheira do CAU/GO, participou do levantamento e também apontou a baixa velocidade e a sinalização como pontos positivos para a trafegabilidade nos diversos modais – a pé, bicicleta e ônibus, especialmente. “As fachadas ativas e o comércio em geral garantem fluxo relativamente intenso de pessoas durante o dia, o que dá vida ao espaço urbano”, disse.
“Mas, como muito poucas pessoas habitam o Centro, incluindo a avenida Goiás, o local torna-se mais inseguro após o horário comercial”, afirma Adriana Mikulaschek. “A segurança, segundo a ativista Jane Jacobs, está relacionada diretamente com a possibilidade de ver e ser visto e pela extensão da quadra. Ou seja, uma rua e uma calçada seguras devem estar em uma zona mista, com comércio e casas, onde o uso em horários diferenciados possibilita um fluxo contínuo de pessoas e ainda que a distância entre dois cruzamentos, seja curta.
A reportagem do Popular, que também citou as avenidas Universitária e Ricardo Paranhos como exemplos positivos em Goiânia, baseou-se no conceito de “rua completa”, ainda praticamente desconhecido nas prefeituras brasileiras. O objetivo de uma rua completa é oferecer segurança e conforto a todas as pessoas, de todas as idades, usuárias de todos os modos de transporte. Saiba mais no site da organização WRI Brasil. A pior rua de Goiânia, eleita por sete entre os nove consultados pelo repórter Vandré Abreu, foi a avenida Anhanguera, por conta de suas calçadas estreitas, muitas vezes ocupadas indevidamente pelo comércio, sua falta de arborização e seu excesso de interseções e semáforos para o transporte coletivo.