Como estratégia de sobrevivência no futuro da profissão, o arquiteto e urbanista Antonio Francisco de Oliveira, ex-vice-presidente do CAU/BR, acredita que seus colegas necessitam diversificar as atividades e inovar na forma de trabalhar, para além de serem empregados ou autônomos. “Eles precisam ser ativos, buscar e encontrar seu próprio caminho”, afirma.
Autor do livro “A nova profissão de arquiteto no Brasil: subsídios para a dinâmica da regulamentação” (2019), Francisco de Oliveira é um dos palestrantes confirmados para o Seminário Nacional “O mercado profissional do arquiteto e urbanista”, que o CAU/GO realiza no próximo dia 21, em parceria com o Sebrae e a Asbea. Ele falará sobre “O futuro da Arquitetura”. Saiba mais.
Doutor pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o arquiteto também é autor do livro “O exercício da Arquitetura no Brasil” (2016).
Confira abaixo a entrevista:
Qual é a relevância da profissão do arquiteto e urbanista para a sociedade hoje, oitenta anos desde que foi regulamentada pela primeira vez?
A importância social da profissão de arquiteto tem sido reconhecida em praticamente todas as civilizações desde a Antiguidade. Prova disso é o fato de os nomes e as obras de muitos arquitetos – de Vitrúvio a Palladio, de Brunelleschi a Niemeyer – terem sido registrados ao longo da história humana. Mas é inegável que essa importância tem aumentado à medida que o atendimento às necessidades sociais passa a exigir níveis mais elevados de criatividade e de capacidade técnica, como tem ocorrido nas últimas décadas.
No Brasil, a regulamentação da arquitetura praticamente coincidiu com o início do aumento da urbanização e do consequente crescimento das cidades a partir do segundo quartel do século 20. Essa tendência se manteve durante todo o resto do século, e assim permanece nas décadas iniciais do 21. Nesse contexto, a profissão do arquiteto assumiu importância capital, pois a ele cabe a tarefa de planejar o ordenamento dos espaços urbanos e de projetar os edifícios e os equipamentos urbanos. O fato é que as pessoas não somente moram em casas e edifícios criados por arquitetos, mas também estudam, trabalham e realizam a maioria de suas demais atividades diárias em espaços criados por estes profissionais.
Desta perspectiva é fácil perceber, portanto, que todos os espaços em se que realizam as mais diversas atividades humanas – moradia, trabalho, educação, saúde, lazer etc – para poderem ser construídos precisam antes ser criados pelos arquitetos.
Mas pesquisas revelam que uma grande parcela da população não contrata arquitetos para projetar e acompanhar a execução de suas obras. O fato demonstra que ainda há um caminho considerável a ser percorrido, rumo a um maior conhecimento sobre o trabalho do arquiteto e urbanista. Quais são seus palpites a respeito de como percorrê-lo?
De fato, há ainda um número elevado de pessoas que desconhece a importância do serviço do arquiteto, em benefício da qualidade da edificação ou da área urbana. E por isso acabam entregando o serviço a leigos. Mas é um número decrescente, já foi muito mais elevado algumas décadas atrás. Isso é sinal de que a sociedade vem percebendo que o trabalho do arquiteto qualifica e valoriza o bem resultante do projeto dele. Ainda há um caminho longo a ser feito e o CAU e as entidades de arquitetos podem contribuir com isso. Como? Se aproximando cada vez mais da sociedade e empreendendo campanhas de divulgação do significado da profissão e da importância dela para a qualidade dos produtos. Levando os estudantes de Arquitetura a despertar sobre a importância de se aproximarem da população e de trabalhar com ética e responsabilidade, para que o trabalho do arquiteto seja cada vez mais respeitado e admirado. Ademais, é importante que os cursos continuem empenhados em aprimorar, permanentemente, a formação dos arquitetos.
Não é de hoje que se observa discrepâncias entre a formação acadêmica, o exercício profissional e o interesse social. Quais são as perspectivas para essa questão?
A principal referência sobre a qual se baseia a regulamentação de uma profissão como a arquitetura é a correlação – que deve ser a mais estreita possível – entre a formação acadêmica e o exercício dessa profissão. Isto se traduz numa regra segundo a qual tudo o que o arquiteto pode realizar profissionalmente (suas atribuições profissionais) deve ser objeto de estudo nos cursos de arquitetura; e só o que a ele é ensinado nesses cursos (formação acadêmica) lhe deve ser permitido fazer na prática profissional. E assim é porque cabe à regulamentação proteger, não ao arquiteto, mas à sociedade usuária de seus serviços, garantindo que somente indivíduos devida e comprovadamente habilitados atuem no campo da arquitetura.
É por essa via que a regulamentação pode ir ao encontro do interesse social: comprometer-se com a segurança das pessoas e de seu patrimônio e do meio ambiente, zelando para que somente indivíduos providos de formação acadêmica adequada venham a realizar os serviços que a sociedade demanda. Se tal requisito for devidamente cumprido, a regulamentação atenderá aos propósitos para os quais terá sido instituída e estará, de fato, em harmonia com o interesse social.
É forçoso reconhecer que, atualmente, há frequentes críticas acerca da formação acadêmica do arquiteto, e que há bons motivos para isto. Parece-me, contudo, que essa formação tem menos problemas nos conteúdos curriculares formadores dos planos pedagógicos dos cursos do que na forma como tais conteúdos são operacionalizados. Em meu entender, seria conveniente que os cursos de arquitetura dedicassem mais atenção a questões como: inovações técnico-construtivas e em materiais aplicados aos edifícios e ao espaço urbano, eficiência energética, sustentabilidade, edifícios inteligentes etc. Outro tema que, me parece, merece ser bem apreciado nos cursos é o que concerne à necessidade de o arquiteto capacitar-se para empreender, algo pouco comum nas escolas brasileiras.
Mas tudo isso pode ser feito ainda se mantidos os planos pedagógicos atuais. Creio, portanto, que melhorias significativas na formação do arquiteto podem ser feitas sem que sejam necessárias grandes mudanças normativas, exceto no que tange a uma desejável atualização nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) da arquitetura, definidas pela Resolução nº 2/2010, do CNE.
Quais são as principais mudanças que o sr. vislumbra para o trabalho do arquiteto e urbanista num futuro próximo?
O mundo do trabalho passa por uma transformação radical, sobretudo no que diz respeito à forma de suas relações. O emprego, tal como até hoje se conhece, está em extinção, e novas formas de contratação e de prestação de serviços surgem a cada dia. E não só no campo da arquitetura, mas em praticamente todas as profissões e em todas as áreas de atividades. O advento da internet foi um divisor de águas nesse processo ao ampliar as possibilidades de realizar tarefas e, com isso, permitir que a desenvolvimento do trabalho seja compartilhado quase ilimitadamente. Outro dado dessa questão tem a ver com a universalização do ensino superior, o que fez com que o número de universitários crescesse exponencialmente nas últimas décadas. No caso da arquitetura, o número de profissionais em atividade no Brasil praticamente dobrou nos últimos sete anos, e isso ocorreu com a maioria das profissões regulamentadas.
Nesse contexto, considero como estratégica a adoção de duas medidas distintas e complementares. A primeira consiste em estimular o arquiteto a atuar em todas as atividades técnicas e a ocupar todos os campos de atuação concernentes à profissão, a maioria deles hoje relegada a segundo plano. A segunda medida tem a ver com a necessidade de o arquiteto preparar-se para ir além das possibilidades de trabalhar como empregado ou como profissional liberal autônomo ao modo “tradicional”. Ele precisa ser ativo, buscar (e saber como) encontrar seu próprio caminho, prospectar mercados, e, se possível, empreender.
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