“Neste aniversário de 87 anos de Goiânia em período eleitoral, os arquitetos e urbanistas desejam, mais uma vez, participar da política e contribuir para a gestão adequada da capital. Com essa finalidade, desde agosto o Conselho de Arquitetura vem entregando a pleiteantes ao Paço ou à Câmara sua Carta aos Candidatos.
Um dos eixos do documento está na ideia de que a cidade deve ser primordialmente o espaço das pessoas. Seremos mais de 850 mil goianienses a comparecer às urnas, depositando nas nossas escolhas a expectativa por uma gestão responsável e voltada para os cidadãos. Afinal, esse deve ser o trabalho dos políticos, garantindo moradia digna, saneamento e educação, transporte de qualidade, espaços de lazer, acesso à infraestrutura urbana e aos serviços que a cidade oferece.
O cidadão, por sua vez, precisa assumir o papel que lhe cabe, para além das eleições. Uma vez que o novo prefeito assuma, é tarefa de cada um observar, fiscalizar, entender e contribuir para o planejamento urbano e sua devida gestão.
O novo prefeito ou prefeita de Goiânia assumirá uma capital com muitas qualidades, mas também com muitas questões por serem resolvidas. O número de pessoas em situação de vulnerabilidade tem aumentado em decorrência da pandemia, o que irá demandar ações imediatas. As obras viárias precisarão ser concluídas, especialmente as de mobilidade coletiva, que beneficiam um grupo muito maior de pessoas do que as obras destinadas aos carros particulares. Em mobilidade, Goiânia precisa do básico, como calçadas que permitam ao cidadão ir à padaria, sem o risco de torcer o pé ou sofrer uma queda.
Além disso, será preciso investir na criação ou na manutenção dos parques e praças. Toda a cidade precisa contar com áreas verdes e de convivência. Há anos vemos a deterioração do Bosque dos Buritis, um patrimônio ambiental e histórico da capital, planejado por ninguém menos do que Attilio Corrêa Lima. Já o setor Sul vem sendo ameaçado pelos próprios gestores de ser descaracterizado como bairro-jardim, com propostas de liberação de usos e alteração de sua densidade, tão cara ao nosso centro histórico.
Como presente e para o futuro de nossa capital precisamos contar também com a ruptura da tradição de fazer urbanização de forma tão devastadora. Precisamos aprender a viver e conviver com a natureza, mesmo que sejamos urbanos. Um gestor inteligente poderá buscar na origem do desenho da cidade a inspiração para seguir: uma cidade entre bosques. Lembrando de cuidar dos resíduos sólidos e dos efluentes, em comum acordo com as demais cidades da Região Metropolitana.
Devemos aprender a cuidar de Goiânia para nós mesmos. Reconhecer nossa arquitetura modernista e paisagem do cerrado. Não aceitar que muitos de nós estejamos vivendo – morando, se deslocando, trabalhando, estudando – em situações precárias. Não haverá cidade ideal para todos. Mas devemos buscar a cidade ideal para cada um.”
*Maria Ester de Souza, arquiteta e conselheira do CAU/GO.
Publicado originalmente no jornal O Popular, no dia 24/10/2020.