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Hortas urbanas: mais sustentabilidade na cidade

Com um ritmo de vida acelerado, o aumento da tendência ao consumo de alimentos industrializados e a verticalização das cidades, parece cada vez mais distante da realidade plantar aquilo que se come. A não ser para quem mora em sítios ou casas com maior espaço aberto, não é comum ter uma horta em casa. Mas o entendimento sobre os benefícios de produzir os próprios alimentos tem aumentado e, junto, as discussões sobre alternativas para viabilizar esta possibilidade.

Feirinha de orgânicos no TransLAB em Porto Alegre (Foto: TransLAB)

A Virada Sustentável, realizada em seis cidades brasileiras desde o ano passado, é uma das iniciativas que dá visibilidade à causa. Guiado pelos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, o evento teve sua segunda edição em Porto Alegre de 31 de março a 2 de abril de 2017. Uma das atividades do evento foi justamente uma palestra sobre hortas em condomínios. Além de compreender aspectos técnicos e práticos da implementação de hortas em ambientes urbanos, os participantes do evento puderam tirar dúvidas específicas com os facilitadores do debate, Leonardo Brawl, arquiteto e urbanista de formação, e Rafael Knebel, psicólogo social. A dupla faz parte do Raiz Urbana, uma mistura de movimento com empreendedorismo social, que funciona dentro do TransLAB, um instituto de pesquisa e produção em inovação social que abriga várias iniciativas interdisciplinares.

As hortas urbanas

O debate realizado na Virada Sustentável durou uma hora e teve a função, principalmente, de ajudar os participantes interessados a dar o primeiro passo para a implantação de uma horta em suas casas ou condomínios. Leonardo Brawl e Rafael Knebel abordaram dos aspectos mais básicos – como a identificação de parceiros em potencial dentro do condomínio para promover a ideia – até questões técnicas sobre permeabilidade, luz e dimensões dos espaços para instalação de hortas. Uma técnica utilizada em condomínios que já adotaram as hortas comunitárias é a da compostagem com o lixo orgânico produzido pelos moradores. Com um pequeno minhocário, é possível dar uma utilidade aos resíduos na fertilização da terra da horta.

Além disso, ficou evidente que se trata de uma temática de interesse coletivo e individual. Poder plantar alimentos para consumo próprio é econômico, bom para o planeta e para a saúde – já que dispensa o uso de agrotóxicos e venenos. Além disso, ter uma horta no condomínio estimula um pensamento colaborativo, promove trocas de experiências e humaniza o contato com os vizinhos. Embora, em comparação a outros países, a prática ainda seja incipiente no Brasil, já houve um crescimento considerável do debate em torno da questão.

O papel do arquiteto no pensamento sustentável

As atividades ligadas às hortas urbanas na Virada Sustentável foram, também, uma oportunidade para arquitetos e urbanistas pensarem e discutirem a função social da profissão, e em que sentido ela se relaciona com a sustentabilidade. Bruna Bonassina, arquiteta e urbanista que acompanhou o encontro, acredita que a sustentabilidade ainda é um tema pouco abordado dentro da universidade e pouco vinculado à arquitetura pela sociedade como um todo. “É importante aproximar a profissão, que parece muito técnica, de algo mais humano, da comunidade, de pensamento coletivo. As pessoas não se dão conta de que a profissão do arquiteto está relacionada à sustentabilidade. Parece que somos as pessoas que querem tornar tudo cinza, apenas construir cada vez mais e que a sustentabilidade está contra a nossa profissão”, afirma.

Outra participante do evento, também arquiteta e urbanista, comenta que o próprio mercado de trabalho ainda não se abriu o suficiente para a questão. “Eu tive a oportunidade de trabalhar num escritório que realmente fazia arquitetura aliada à sustentabilidade, com certificação, e a aceitação é muito difícil. Então, o escritório acabou fechando. Por falta de público e de fornecedores”, comenta Daniela Bertuol.

Já os facilitadores do debate, Leonardo Brawl e Rafael Knebel, também percebem as dificuldades da consolidação deste pensamento no mercado e ressaltam o quanto a arquitetura e o urbanismo devem se preocupar com a temática. “O urbanismo tem a responsabilidade de tentar mostrar caminhos possíveis para uma sustentabilidade ambiental. E a arquitetura, em sua questão técnica, também pode se comprometer com isso. A bioconstrução, as técnicas de permacultura, conhecimentos transdisciplinares podem ser aliados dos arquitetos”, destaca Brawl.

 

Fonte: CAU/RS

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