Uma notícia, além de importante, extremamente simbólica. Às vésperas da Semana da Mulher ficamos sabendo que duas arquitetas irlandesas, Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do Grafton Architects, foram as vencedoras do Prêmio Priztker 2020.
Não, não é apenas “um” prêmio. O Priztker é simplesmente o Nobel da Arquitetura, que destaca todo ano os maiores profissionais do segmento no mundo. A última vez que o Pritzker premiou uma mulher foi em 2017 – a espanhola Carme Pigem, que no entanto dividiu a láurea com os arquitetos Ramón Vilalta e Rafael Aranda.
O fato de a premiação deste ano ter sido exclusivamente feminina diz muito, não apenas pela proximidade com o 8 de março, mas também porque realça o peso da participação das mulheres no desenho dos espaços, hoje.
Se no mundo elas ganham cada vez mais destaque na Arquitetura, no Brasil não é diferente. Aqui as mulheres respondem por mais de 60% do segmento, sendo minoria apenas nos Estados do Acre e do Amapá, onde representam 47% e 45% respectivamente. É bom acrescentar que, em Goiás, dois terços dos profissionais são mulheres.
E mais: na faixa etária até 25 anos, as profissionais brasileiras representam 79% do total de arquitetos e urbanistas. Entre 26 e 30 anos, o percentual é de 72%. A maioria se mantém até a faixa dos 60 anos, acima da qual os homens assumem o posto, com 60%.
Mas deixemos números e percentuais de lado, para falar um pouco do perfil da mulher em seu desempenho como arquiteta. Rótulos à parte, é inevitável dizer que determinadas características femininas são muito bem aproveitadas pela profissão: é fato que as mulheres, além da visão sistêmica – capacidade de enxergar o problema como um todo e as implicações entre todas as partes – têm um senso prático mais apurado, no que diz respeito a detalhes, além de demonstrarem mais sensibilidade ao equiparar as expectativas emocionais do cliente ao resultado entregue pelo projeto. E esses são só alguns de tantos exemplos.
Portanto, com o episódio do Priztker 2020, sai premiada também a capacidade feminina de inovação, flexibilidade e adequação às mais diversas e complexas situações. Coisa que todos nós conhecemos bem, mas que vale a pena celebrar.
*Paulo Renato Alves, conselheiro do CAU/GO
Publicado originalmente na jornal O Popular, no dia 09/03/2020.