“Aproxima-se o momento das eleições e as propagandas eleitorais mostram os candidatos preocupados em falar de saúde, educação e segurança pública. Nada mais justo, afinal essas são políticas essenciais para o cidadão. Entretanto, para uma pessoa usufruir de saúde e educação com segurança, precisa ter condições de acessar esses direitos sociais garantidos pela Constituição. E isso só será possível se o transporte, também garantido pela Carta Magna, permitir o acesso a essas políticas públicas.
Percebemos que a publicidade dos candidatos quase não contempla o tema. Quando o faz, é genérica: ‘vamos melhorar o transporte público’. Também têm aparecido propostas do tipo ‘vamos reduzir a tarifa do transporte coletivo’.
A mobilidade em Goiânia em raríssimas gestões esteve na ordem do dia. É importante ressaltar, por exemplo, a criação da Companhia Metropolitana de Transporte de Coletivo (CMTC). Sua criação representou a institucionalização da gestão metropolitana do transporte coletivo, assegurando equidade na mobilidade entre os cidadãos dos municípios da Região Metropolitana de Goiânia. Também devemos citar os corredores de transporte coletivo e o BRT, fundamentais para a mobilidade da capital, que, no entanto, ainda carecem de plena implantação, até que a cidade colha seus frutos.
Não podemos nos esquecer também da instalação das primeiras ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas em Goiânia, assim como da implantação das bicicletas compartilhadas. As medidas ofereceram a oportunidade de complementação de percurso ou mesmo o deslocamento completo através de um transporte limpo e sustentável – além de viável e possível.
Mas por que a tão essencial política de mobilidade não tem sido um dos principais temas da propaganda dos candidatos à prefeitura de Goiânia? Analisando seus programas de governo, vemos uma situação diversa. Os termos “transporte” ou “mobilidade urbana” apareceram até 30 vezes em algumas propostas! Porém, sempre de forma genérica e inexpressiva: rever a tarifa, fazer novos investimentos, melhorar o transporte, concluir obras, garantir fluidez, ampliar ciclovias, expandir, integrar etc.
A verdade é que nossos futuros gestores não estão preparados para enfrentar esse desafio. Pensar no transporte ou na mobilidade requer enfrentar preconceitos e ser capaz de responder a questões numerosas e complexas. Os candidatos precisam considerar de que maneira priorizarão o transporte coletivo. Como o financiarão e como resolverão a injustiça social do rateio de seu custo igualmente entre os usuários. Os candidatos precisam refletir também sobre como oferecerão soluções para a violência no trânsito, maior causa de morte entre jovens adultos. O futuro prefeito necessita, igualmente, considerar a importância da mobilidade do pedestre e contornar a precariedade dos nossos passeios públicos, que não aparecem na pauta de nenhum candidato. Enfim, é mesmo preciso “melhorar a mobilidade”. Mas para isso é necessário pensá-la com a seriedade e urgência que requer”.
*Fernanda Mendonça é arquiteta e urbanista e conselheira do CAU/GO.
Publicado originalmente no jornal O Popular, no dia 09/11/2020.